Regresso às aulas
- Ana Caetano
- 1 de out. de 2015
- 5 min de leitura
A publicidade e as notícias estão repletas de imagens que nos relembram que é tempo de voltar aos livros Mas o que é facto é que também é um período em que existe muita pressão sobre pais, professores e alunos. São as notas, a disciplina, a gestão de horários, compra de material escolar, .... Enfim, todas aquelas coisas que podem tornar o inicio do ano letivo um momento de mal-estar, com o desgaste da paciência, descanso e qualidade de vida. Mas não se preocupe: existem estratégias e instrumentos que ajudam na gestão da pressão e das tarefas que cada ciclo de ensino apresenta.
1ºciclo: a adaptação ao novo ciclo de vida.
Aos 6 anos, mal começámos a crescer é-nos dada uma nova tarefa: ir para a escola! Neste novo espaço físico, a criança estará com outras crianças e adultos com uma responsabilidade nova: aprender. Tenha paciência com esta transição. Não precisa de aprender num instante... tem todo o ano letivo para o fazer!
A criança acabará por aprender a ler...e a não ser que haja sérias dificuldades cognitivas (o que será uma exceção e não a regra), a aprendizagem faz-se melhor sem sentido de urgência. Não o compare com os filhos dos colegas, familiares ou vizinhos. Cada um tem o seu ritmo.
Lembre-se: este é o momento que iniciamos o percurso escolar. Há tempo para esta adaptação e todo o 1º ano serve para isto mesmo. Devagar se vai ao longe.
2º ciclo (5º e 6º ano): Já sou grande!
A passagem de uma escola onde se tem aulas sempre na mesma sala, com um professor para uma escola com muitas salas, disciplinas novas e pelo menos 6 professores diferentes, traz desafios acrescidos a qualquer aluno. Aumenta a responsabilidade de cumprir horários, ter diversos intervalos entre aulas, com lanches e idas ao bar/refeitório.
Alguns encarregados de educação aproveitam para dar o 1º telemóvel ao seu educando. Assim conseguem ter acesso facilitado a entradas e saídas da escola ou outras atividades extracurriculares. Esta pode ser uma boa ferramenta para gerir horários e ajudar neste processo de adaptação. Tenha em atenção que cada escola tem a autonomia e autoridade para regulamentar a utilização de telemóvel no espaço escolar. Informe-se dessas regras e explique detalhadamente aos seus filhos como estas devem ser respeitadas.
Sugestão: Se escolher dar um telemóvel ao seu educando, escolha modelos simples para salvaguardar situações de roubo ou que seja um fator de distração. A escola é um local de aprendizagem e quantos mais estímulos distratores existirem nas mãos dos alunos, mais a atenção é dividida entre os conteúdos escolares e os ecrans que nos rodeiam. Conseguir estar com atenção nas aulas é o fator mais importante em toda a aprendizagem que fazemos ao longo da vida.
3º ciclo (7º, 8º e 9º ano): "Quem sou eu?"
Embora seja uma transição mais suave em termos de horários e atividades escolares, este é um momento tumultuoso para os pré-adolescentes. As hormonas começam a atuar acentuadamente na transformação do corpo e humor. As inseguranças, flutuações de humor e dúvidas sobre como atuar no mundo aprofundam-se. Por outro lado, é neste ciclo que se começa a perceber o que se gosta de estudar, e onde no final se escolhe a área de estudos.
Sugestão: Comece desde logo a ajudar o seu filho a aceitar essas mudanças. Oriente-o para que explore o mundo através de leituras, filmes ou visitas a locais de interesse relevantes para que receba informações de apoio às escolhas nos estudos e na sua forma de lidar com as mudanças no corpo.
Respeite a necessidade crescente de privacidade e os sentimentos que expressa (ou não). Não ridicularize alguns excessos emocionais. Ponha limites se lhe parecerem desadequados mas compreenda o momento pelo qual o seu filho ou filha está a passar. Lembre-se que a adolescência acaba por passar e tudo o que lhe ensinou antes continua lá. Aceite a adolescência como um processo necessário e incontornável.
10º, 11º e 12º ano: "Quase adulto"
A partir do 10º o ensino pode ser visto em dois campos distintos: um curso profissionalizante ou o prosseguimento de estudos apenas com acesso à faculdade. Caso se pretenda entrar mais cedo no mercado de trabalho, ou se há dúvidas quanto ao que se gosta de estudar, o curso profissional é o mais adequado. Sei por experiência profissional que estes cursos são vistos como “menores”, para aqueles que terão menos capacidades. Convido-os a ver por outra perspetiva.
Atualmente lidamos com tanta informação que pode ser difícil para um aluno saber tão cedo como os 14 anos que profissão quer escolher para o resto da vida. E pode existir a necessidade de entrar no mercado de trabalho para ajudar a família em momentos económicos difíceis…aliás, deve ser visto como meritório os filhos que pensam desta forma, uma vez que estudar significa muitos encargos para as famílias e se a pessoa tem dúvidas sobre o que pode ou não ser, melhor será escolher a formação que lhe dá instrumentos para começar a trabalhar.
Outro aspeto interessante relaciona-se com os “maus alunos” que não conseguem decorar as matérias com facilidade e que têm boas notas nas disciplinas práticas: desenho, educação física, trabalhos manuais. Estes alunos tem uma inteligência prática e aprendem melhor fazendo, participando ativamente no objeto de estudo e observando um produto final como um desenho, um protótipo de uma cadeira, uma boa gestão de trabalho de equipa e capacidade atlética.
Muitos no final deste ciclo de estudos "aprendem a aprender", desenvolvendo as capacidades de memorização que não estiveram presentes nos primeiros 9 anos de escola.
Alguns escolhem ir para a faculdade, uma vez que o sistema de ensino português permite fluir entre tipos de ensino ao longo dos ciclos de estudo. É uma das grandes vantagens do ensino português. Por exemplo, na Alemanha os alunos começam a ser separados por tipo de ensino a partir do 1º ciclo de estudo, sendo que é muito difícil passarem do ensino profissional para a faculdade. Não é o nosso caso. Para aqueles que querem ir para a faculdade logo a partir do 10º ano, o mais importante a reter é que precisam de desenvolver os seus métodos e hábitos de estudo.
Se desenvolverem o hábito de estudar regularmente, por exemplo ao fim de semana, no domingo à tarde, cumprirem os TPCs com assiduidade em complemento com os métodos de estudar (resumos, esquemas, mapas conceptuais, fichas e exercícios dos manuais), as boas notas vão aparecer e a média de entrada vai ser consolidada durante os 3 anos. É muito importante perceber-se que se deve ter tempo livre (tempo sem fazer nada, para descansar), atividades físicas e convívio com colegas para que se esteja disponível para os estudos.
Cada vez mais um licenciado é aquele que tem de estudar toda a vida. Praticar desde já o equilíbrio vai ajudar o estudante mais tarde a conciliar emprego, vida familiar e lazer. Não é só o 12º ano que conta para a média...é um processo não um objetivo único a atingir e corre melhor se se fizer ao longo do 10º, 11º e 12º.

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